Setenta e cinco anos depois da libertação do campo de concentração e de extermínio de Auschwitz-Birkenau, ocorrida no dia 27 de Janeiro de 1945, várias iniciativas agendadas procuram corresponder àquilo que o escritor Primo Levi designou por “dever de memória”. A imprensa também tem cumprido essa obrigação. Um bom exemplo é “Dentro de Auschwitz”, publicado no suplemento cultural Babelia do diário espanhol El País de sábado passado. Um dos textos que integram o dossier sobre o tema, “Palabras imposibles”, tem, desde logo, a utilidade de poder ser aproveitado pelas adequadas recomendações de leitura sobre Auschwitz-Birkenau. Perante a abundância de livros publicados em Portugal, a selecção apresentada torna-se particularmente bem-vinda.
O jornalista Guillermo Altares divide as obras que se têm escrito sobre Auschwitz em três categorias. A primeira engloba os relatos dos que para lá foram enviados pelos nazis; a segunda, os livros de História; e a terceira, a ficção.
No primeiro grupo, considerado o fundamental, estão os testemunhos dos prisioneiros de Auschwitz, referindo o jornal sete livros, considerados obras-primas: de Imre Kertész, Kaddish para uma criança que não vai nascer (Editorial Presença); Primo Levi, Se isto é um homem, A trégua e Os que sucumbem e os que se salvam (D. Quixote); e Elie Wiesel Noite, Amanhecer e Dia (Texto Editores). Nesta categoria, o jornal inclui ainda a banda desenhada de Art Spiegelman, Maus (Bertrand), que relata a vida do pai do autor, sobrevivente do campo, e O diário de Anne Frank (Livros do Brasil).
Dois testemunhos publicados mais recentemente, tanto em Espanha como em Portugal, estão Última paragem Auschwitz. Como sobrevivi ao Horror – 1943-1945, de Eddy de Wind (Planeta), e Auschwitz e depois, de Charlotte Delbo (BCF Editores).
Entre os livros de história, “os ensaios que tratam de reconstruir o funcionamento do campo baseando-se em testemunhos, de sobreviventes, mas também de verdugos, assim como em documentos”, o segundo grupo, portanto, o destaque é concedido a Auschwitz. Os nazis e a solução final, do historiador e cineasta britânico Laurence Rees (D. Quixote) e uma obra, Auschwitz: história e posteridade, da historiadora alemã Sybille Steinbacher, não editada em Portugal.
O género final abarca a ficção que Auschwitz gerou. As sugestões nesta categoria são parcas, apenas se referindo A bibliotecária de Auschwitz, do espanhol Antonio G. Iturbe (Planeta), A escolha de Sofia, de William Styron (Livros de Brasil), considerado como “um grande romance sobre o Holocausto e os trágicos dilemas impostos pelo sistema criado pelos nazis para desumanizar as suas vítimas”, e Sonho que vivo?, da Ceija Stojka, uma cigana sobrevivente de Auschwitz (a obra não está editada em Portugal).
O trabalho publicado no suplemento cultural do diário espanhol começa por assinalar uma impossibilidade, citando o que afirmou Elie Wiesel em certa ocasião em que esteve em Madrid: “Ainda não conseguimos abordar este tema. Fica fora de todo o entendimento, de toda a percepção. Podemos comunicar alguns retalhos, alguns fragmentos, mas não a experiência. O que vivemos ninguém o conhecerá, ninguém o entenderá”.

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