
Outra Presença é um dos títulos mais relevantes da imprensa escolar portuguesa. Ao longo de 30 anos, tem sido uma publicação exemplar que, aliás, pode muito bem inspirar muitos jornalistas profissionais. Como tantas vezes sucede em iniciativas modelares, o êxito começa por se dever a uma pessoa, Luísa Diz Lopes, mesmo que a caracterize uma enorme discrição. A ela se deve, desde logo, um constante trabalho de entusiasmar colaboradores, particularmente alunos (e ex-alunos), com quem constrói regularmente um jornal de leitura agradável e profícua (o grafismo cuidado também deve ser devidamente enaltecido). Luísa Diz Lopes conta aqui como tem sido feito o Outra Presença ao longo de três décadas e as vantagens que tem um projeto jornalístico na escola.
Luísa Diz Lopes
Coordenadora do Outra Presença
O jornal do Agrupamento de Escolas Abade de Baçal, Outra Presença, integra há 30 anos, de forma contínua, o seu plano de atividades e contribui para a dinâmica do estabelecimento através da ação do clube de jornalismo e de todos quantos colaboram com este projeto e investem nele.
A história do jornal
Nasceu em 1989 como Outra Presença e o seu nome resultou de uma dupla intenção, a de dar continuidade ao projeto de jornal escolar já existente desde 1959 – o “Presença” – e de, simultaneamente, se afastar da sua linha ideológica e editorial. Por isso, o jornal é indissociável da história do agrupamento que ele ajuda a construir, que divulga e que questiona. E, tal como ele, também evoluiu acompanhando o pulsar do tempo. Do velhinho A4 com recurso a cortes e colagens existem apenas boas recordações e uns exemplares museológicos. Rapidamente, recorrendo às tecnologias e aos programas de edição e paginação, se reconfigurou num formato mais adulto, foi ganhando cor e enveredou pelo digital, assumindo o seu próprio domínio (www.outrapresenca.com) em 2007. Desde então, mantém a edição digital, que vai sendo atualizada à medida que os artigos vão surgindo, e a impressa, cuja versão em PDF também é disponibilizada em linha.
Também a dinâmica da equipa evoluiu. Inicialmente a responsabilidade da produção era apenas de docentes e a partir de 2000 começou a ser partilhada com um grupo de alunos, com a criação do Clube de Jornalismo. A partir desse momento, estes passaram a intervir em todas as fases do processo de produção de um jornal escolar: seleção de temas de fundo; sugestão de artigos; redação e edição de textos; captura e edição de imagens; paginação e revisão.
Ao longo deste percurso, foi fundamental a existência do projeto Público na Escola, cujos boletins contribuíram para o crescimento do jornal, sugerindo o tratamento de temas, ajudando a evitar erros e estimulando a construção de um trabalho “mais profissional”. Muito importante também foi a ação de Eduardo Jorge Madureira, o rosto desse projeto do jornal Público, que manifestou sempre uma enorme disponibilidade na ajuda ao desenvolvimento dos projetos jornalísticos e que sempre respondeu prontamente a todas as dúvidas colocadas. O Outra Presença deve o seu desenvolvimento e existência também ao Público na Escola, já que a participação no Concurso de Jornais Escolares constituiu uma forte motivação para prosseguir um percurso de aperfeiçoamento.

O funcionamento do clube
Reunindo semanalmente num horário acordado com todos aqueles que se inscreveram no clube, a equipa começa por selecionar o tema de fundo do suplemento e os trabalhos que poderão ser relizados nesse âmbito, discute possíveis artigos a produzir relacionados com a comunidade escolar e a atualidade, faz um levantamento dos eventos e atividades que já decorreram ou estejam previstas, equaciona as possíveis entrevistas a realizar bem como os trabalhos que preencherão as diferentes secções habituais do jornal e distribui as tarefas. Além disso, registam-se num cronograma as datas de realização e conclusão de cada tarefa, os momentos críticos em que os alunos não estarão tão disponíveis para se dedicar ao jornal. Deste modo, assegura-se que o jornal é publicado no prazo previsto. Nas sessões seguintes, os alunos redigem os textos, capturam, selecionam e editam imagens, titulam, paginam e reveem os textos. E ainda recolhem informação e avaliam a sua pertinência e fiabilidade.
Que vantagens tem, então, um projeto jornalístico na escola?
Tendo em conta o que foi dito, verifica-se que este tipo de projetos ajuda os jovens a olhar para o mundo, a refletir sobre ele, a analisar diferentes perspetivas, a encontrar formas de o contar, mostrar e problematizar. Por outro lado, é inegável o seu contributo no desenvolvimento das diferentes competências, da escrita à leitura, da oralidade à literacia da informação. Finalmente, incrementa o seu espírito criativo e sensibiliza-os para o papel fundamental da informação e dos órgãos que a transmitem.
Assim, o Outra Presença é a janela através da qual se mostra a escola à sociedade e se observa o mundo para escolher o que trazer para a escola através da escrita e da imagem. É um laboratório de escrita e de leitura, de seleção e tratamento de informação, de fotografia e edição digital, de ideias e de exercício de cidadania, onde a liberdade e a democracia se aliam à responsabilidade e autonomia.
Por isso, é com orgulho que o Outra Presença festeja 30 anos e continua confiante o seu caminho para prosseguir na construção da sua história assegurando a memória da escola, informando, propiciando reflexões, desassossegando consciências e aproximando os jovens da informação e dos jornais. Para o conhecerem melhor, podem aceder à sua página e ao mais recente número impresso, publicado em dezembro.