Sobre o que é e para que serve a educação, há uma explicação muito simples e sensata do filósofo Fernando Savater [1]. A educação é a “transmissão do que consideramos essencial da nossa cultura, da nossa vida às outras gerações”. Para o autor de Política para um jovem, além do ensino de “destrezas que sirvam para o trabalho”, há também, sublinhe-se, “a formação cívica e ética”. Fernando Savater julga que a educação se assemelha à pessoa que, tendo em sua casa todos os seus bens preciosos, quadros, livros, discos, tem de decidir, repentinamente, por causa de um incêndio, o que é mais importante salvar. A educação, considera o filósofo, é também o resgate do que há de mais valioso. Educar é decidir o que queremos que nos sobreviva.

“Formar empregados, pessoas rentáveis, que ganhem e façam ganhar dinheiro, rapidamente”, pode ser uma opção educativa, mas Fernando Savater não a considera como a base da educação. “O fundamental no ensino é formar cidadãos, pois na democracia somos todos governantes. E, como somos governantes, é preciso educar para não sermos malgovernados. Se caímos nas mãos de ignorantes, fanáticos, cínicos, a democracia será prejudicada, ou impossibilitada, como aconteceu em alguns lugares”. Aconteceu e, evidentemente, acontece.

A escola tem, pois, uma missão de que não deveria prescindir: fomentar nos mais novos o gosto – que é, simultaneamente, um direito e um dever – pela participação nos assuntos da escola, do município, do país e do mundo, oferecendo-lhes as ferramentas para uma intervenção crítica, esclarecida e imaginativa; uma intervenção orientada para que prevaleça o bem comum.

Em Braga, nos passados dias 15 e 16 de Maio, o Agrupamento de Escolas D. Maria II promoveu o II Fórum de Educação para a Cidadania que serviu para apresentar à comunidade educativa e à cidade os projectos que as crianças e os alunos, desde o pré-escolar até ao 12.º ano, promoveram durante o ano lectivo – sem ter tido o eco que mereciam nos meios de comunicação regionais.

De entre os projectos apresentados, vale a pena referir um daqueles que serviu para que os alunos reflectissem e aprofundassem os seus conhecimentos sobre temas da atualidade que os afectam e preocupam. Dinamizado pela delegação Norte da Oikos, com o financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do Programa Democracia e Sociedade Civil, e a colaboração da Rádio Antena Minho, o projecto “PODS dar voz às tuas causas” [2], no âmbito do qual se produziram diversos podcasts, envolveu mais de uma dezena de agrupamentos de escolas do distrito de Braga e quase quatro centenas de alunos. Visou-se, assim, promover com os mais novos “o conhecimento e a discussão de problemáticas actuais que sejam do interesse dos jovens, incentivando a que tenham um pensamento crítico e se tornem cidadãos activos e participativos a nível local e regional, e recorrendo a ferramentas digitais e aos meios de comunicação locais”.

Um dos podcasts, disponível no site da Antena Minho, propôs-se reflectir sobre a relevância de defender a liberdade de expressão e de combater as ameaças de que ela é alvo, constantemente, em todo o lado. Incumbiram-se de o gravar a Íris Costa, a Maria Luiza Silva e o Matias Gomes, alunos do 10.º G da Escola Secundária D. Maria II, e o Marcos Didalelwa e a Soraia Ferreira apresentaram-no na quinta-feira, explicando aos colegas de modo mais aprofundado por que é tão importante defender a liberdade de expressão. Eles, de resto, já tinham intuído essa utilidade, uma vez que escolheram que, entre diversos temas pertinentes que podem ser abordados nos Domínios da Cidadania, fosse tratado este.

Recorrendo ao exemplo inicial, a liberdade de expressão – que permita conhecer a verdade dos factos e escutar opiniões plurais – é um dos valores que importa salvar do incêndio que o autoritarismo e a mentira estão a atiçar no mundo. É bom verificar que há alunas e alunos a lembrá-lo devidamente. É estimulante constatar que “a formação cívica e ética” pode ser uma tarefa escolar realizada com entusiasmo e proveito.

[1] Vitor Hugo Brandalise – “Mente aberta. Entrevista com Fernando Savater”. O Estado de S. Paulo, 1 de Novembro de 2015 

[2] No site da Oikos, é possível descarregar um excelente guia para a edição de podcasts.

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