Os adolescentes que vão para a cama tardiamente para ficarem perante os ecrãs têm conexões cerebrais mais débeis e pior desempenho cognitivo. A conclusão, surgida na sequência de uma investigação das Universidades de Cambridge e Fudan, em Xangai, que acompanharam o dia-a-dia de 3.200 jovens, esteve em foco na conferência Psicofarmacologia Clínica na Idade de Transição, organizada em Cagliari, nos dias 15 e 16 de Maio, pela Sociedade Italiana de Neuropsicoarmacologia (SINPF) e pela Sociedade de Neuropsiquiatria da Infância e da Adolescência (SINPIA).

Não é a primeira vez que se diz que ir para a cama tarde e dormir pouco por causa do abuso de ecrãs compromete o desenvolvimento do cérebro dos adolescentes, mas quando outros estudos o corroboram é útil referi-los. A causa do problema encontra-se na inversão do ritmo sono-vigília devido ao tempo excessivo que as crianças passam nas redes sociais, mesmo quando estão na cama. Fazendo o que fazem, afectam a duração e a qualidade do repouso. O diário italiano Avvenire, um dos jornais em que a informação encontrou eco, sublinhou que o estudo das duas universidades é claro e extremamente fiável, por ter envolvido 3.200 jovens com idades compreendidas entre os 9 e os 14 anos (“Gli psichiatri. ‘Poco sonno e troppi social: il cervello dei ragazzi è compromesso’”).

Os dados mostraram que os adolescentes mais expostos aos ecrãs e que dormem menos têm conexões cerebrais mais frágeis e volumes cerebrais reduzidos, especialmente no hipocampo. Além disso, têm pior desempenho cognitivo do que os que dormem bem. Os investigadores britânicos e chineses, que o Avvenire cita, concluíram algo que é ainda mais preocupante: as diferenças cerebrais e cognitivas entre os jovens com diferentes padrões de sono não são temporárias, permanecem constantes durante anos.

Os organizadores da conferência Psicofarmacologia Clínica na Idade de Transição chamaram ainda a atenção para o facto de os dados epidemiológicos disponíveis mostrarem que a maioria dos transtornos mentais crónicos tem início na adolescência ou, muitas vezes, até mais cedo, na infância e na pré-adolescência. Uma intervenção precoce é, pois, fundamental para prevenir problemas.

Uma especialista da Unidade de Neuropsiquiatria Infantil e Adolescente do Hospital Pediátrico A.Cao, em Cagliari, Itália, Sara Carucci, propõe, desde logo, uma regra muito simples que estabelece que os mais novos se desliguem das redes sociais à noite para promover o desenvolvimento saudável do cérebro, seguindo o exemplo dos adolescentes que vão para a cama mais cedo para dormir mais e melhor e que são os que alcançam melhor desempenho cognitivo.

Sara Carucci lembrou ainda que a má higiene do sono e a hiperconexão estão frequentemente associadas a outros estilos de vida negativos, a actividade física insuficiente, a má alimentação e ao uso de substâncias que afectam ainda mais o desenvolvimento neurobiológico do cérebro e criam a base para uma maior predisposição para desenvolver ansiedade, depressão e risco de suicídio. A especialista nota que, quanto mais estilos de vida negativos estiverem associados, piores são as consequências no final da adolescência e na idade adulta.

Não é por falta de avisos que não se previnem as problemáticas consequências que decorrem do abuso dos ecrãs.

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