“Os efeitos dos ecrãs: o que diz a ciência?” é o título de um esclarecedor ponto da situação sobre o tema apresentado pela revista canadiana Québec Science no final de Março. Marine Corniou procedeu à leitura de diversos estudos para apurar o que se sabe e o que se duvida acerca dos efeitos dos ecrãs no corpo e no cérebro das crianças e elaborou o documento que a seguir se apresenta, sem links para os estudos citados, que o texto original inclui. Em vez de um estudo, aqui fica uma síntese de múltiplos estudos.
Sono
Muitos estudos mostram uma correlação entre o tempo de exposição aos ecrãs e a redução da duração do sono em crianças e adolescentes. Os ecrãs em excesso também perturbam os ciclos do sono. Finalmente, a luz azul emitida pelos ecrãs altera a síntese de melatonina, a “hormona do sono”, e atrasa o adormecimento.
Excesso de peso e obesidade
Demasiado tempo em frente da televisão está associado ao consumo de mais junk food e está correlacionado, em crianças em idade pré-escolar, com um aumento do risco posterior de obesidade. Há ensaios clínicos que mostraram que a redução do tempo em frente ao ecrã está directamente relacionada com um menor peso das crianças.
Retina e visão
A luz azul dos ecrãs tem efeitos adversos na retina. Em Agosto de 2018, um estudo publicado no Scientific Reports revelou os mecanismos envolvidos, mostrando que esse comprimento de onda causa várias reações químicas que acabam por libertar moléculas tóxicas nas células fotoreceptoras. Usar ecrãs (e ler ao perto, em geral) poderia contribuir para um rápido crescimento da miopia, associado também a um menor tempo ao ar livre, resumiu um estudo publicado em Ophthalmology em Agosto do ano passado.
Linguagem
A exposição excessiva aos ecrãs está associada ao atraso na aquisição da linguagem em crianças pequenas. Catherine Birken, pediatra do Hospital for Sick Children de Toronto, confirmou isso em 2017, avaliando 900 crianças com 18 meses. Cerca de 20% gastava em média 28 minutos por dia a ver conteúdos em tablets. E por cada meia hora de uso diário adicional, o risco de atraso na aquisição da linguagem aumentou 49%.
Atenção e concentração
A epidemia de perturbações do défice de atenção e de hiperactividade está relacionado com um tempo excessivo de exposição aos ecrãs? A prova está longe de ser feita, mas muitos estudos estabelecem correlações. A televisão em fundo numa idade muito precoce parece estar associada a distúrbios da atenção. Além disso, em 2018, um estudo publicado no Journal of the American Medical Association e realizado com três mil adolescentes de 15 ou 16 anos revelou que o uso intensivo dos media electrónicos estava associado a mais sintomas de desatenção e hiperactividade. Causa ou consequência?
Desenvolvimento cognitivo e desempenho escolar
Vários estudos associaram a exposição precoce à televisão a funções executivas mais pobres (como memória de trabalho e capacidade de organização), menos envolvimento na sala de aula e mais dificuldades a matemática. Algumas emissões com um ritmo muito acelerado ou outras que estão muito distantes da realidade são, a curto prazo, prejudiciais ao desempenho de determinadas tarefas.
Efeitos neurológicos
Os ecrãs podem afectar as estruturas cerebrais? O vasto estudo americano sobre o Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente, que segue um conjunto de dez mil crianças de 9 a 10 anos durante 10 anos, submetendo-as a ressonâncias magnéticas cerebrais, estuda o tema. Os resultados preliminares foram publicados no final de 2018 relativamente a 4.500 crianças: aquelas que passam mais de sete horas por dia em frente a um ecrã apresentam um emagrecimento prematuro do córtex, mas não se conhecem quais as consequências.
Depressão e ansiedade
Os jovens que passam muito tempo em videojogos, navegando nos telemóveis ou vendo televisão apresentam níveis mais altos de ansiedade e de depressão do que os outros, a partir dos dois anos de idade. Esta é a conclusão de um estudo americano publicado em Outubro de 2018 com base em dados de 40 mil crianças e jovens com idades entre os 2 os 17 anos. No início de 2019, um estudo britânico reafirmou a ligação entre a depressão nos adolescentes e o uso indevido das redes sociais. Aqui, novamente, a causalidade não está comprovada.