Em cada três segundos, durante a campanha eleitoral no Brasil, foi enviada uma mensagem ofensiva e de intimidação contra jornalistas e meios de comunicação, denuncia a organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras no relatório O jornalismo frente às redes de ódio no Brasil. Ataques online contra a imprensa nas eleições de 2022, agora divulgado.
A contabilidade apresentada é impressionante: “Em somente três meses, no final de 2022, mais de 3,3 milhões de mensagens ofensivas e de intimidação contra jornalistas e meios de comunicação foram registadas, ou seja, uma a cada três segundos. Algumas dessas mensagens alcançaram milhões de usuários”.

O objetivo da combinação despudorada de um vocabulário altamente tóxico é repetir à exaustão, até gerar convencimento […], que jornalistas ‘de esquerda’ são mentirosos e não merecem qualquer respeito e credibilidade ao trabalho que desenvolvem. Depois dessa ideia instalada no imaginário de seus seguidores, fica fácil negar qualquer fato e informação jornalística que impacte negativamente suas campanhas.”

Os Repórteres Sem Fronteiras destacam três informações do documento O jornalismo frente às redes de ódio no Brasil:
1. As contas de redes sociais mais usadas para atacar os jornalistas durante a campanha eleitoral tinham em comum três características: apoiavam o candidato Jair Bolsonaro; criticavam o candidato oponente, Luiz Inácio Lula da Silva; e atacavam a imprensa.
2. Cerca de 53% das mensagens ofensivas foram dirigidas a mulheres jornalistas. Entre os dez jornalistas mais intimidados, sete eram mulheres. A jornalista Vera Magalhães foi a mais incomodada. “Colocaram um alvo no meu rosto”, disse ela.
3. Alguns jornalistas apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro desempenharam o papel de influenciadores contra outros profissionais da imprensa. As contas que têm nas redes sociais serviram e continuam a servir para amplificar os ataques contra os que apoiam hoje o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Referindo-se ao relatório O jornalismo frente às redes de ódio no Brasil, Artur Romeu, director do escritório dos Repórteres Sem Fronteiras para a América Latina, explicou que o trabalho “gigantesco” consubstanciado no relatório visou “quantificar a violência e compreender melhor as dinâmicas que tornaram as redes sociais um espaço propício aos ataques contra a imprensa, com o claro objetivo de intimidar e silenciar jornalistas, ou ainda de difundir desinformação para criar um clima geral de hostilidade e desconfiança em relação aos meios de comunicação”. Constatando que o debate público no Brasil (que se encontra em 110.º lugar na classificação mundial da liberdade de imprensa de 2022) se encontra muito polarizado e que a intimidação, que ainda hoje persiste, “transformou de maneira perigosa os jornalistas em alvos”, Artur Romeu faz um apelo: “É urgente reverter essa tendência”.
Os Repórteres Sem Fronteiras recomendam, nesse sentido, um reforço das políticas públicas e dos instrumentos jurídicos susceptíveis de travar o assédio online de jornalistas, sobretudo a que visa as mulheres jornalistas.

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