Jornalismo, fake news & desinformação. Manual para educação e treinamento em jornalismo, versão brasileira de Journalism, “fake news” & disinformation: Handbook for journalism education and training, é um manual que oferece aos educadores e aos estudantes, particularmente de jornalismo, um conjunto de lições sobre a boa e a má informação, designadamente a veiculada pelas fake news. Publicado este ano pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e pela Representação da UNESCO no Brasil, o manual, integralmente disponível online, pretende ser também um guia útil para os que já exercem a profissão de jornalista.
Nas 130 páginas de Jornalismo, fake news & desinformação. Manual para educação e treinamento em jornalismo são apresentadas abundantes propostas de trabalho teórico e prático organizadas em sete módulos: 1. Verdade, confiança e jornalismo: por que é importante. 2. Reflexão sobre a “desordem da informação”: formatos da informação incorrecta, desinformação e má-informação. 3. Transformação da indústria de notícias: tecnologia digital, redes sociais e disseminação da informação incorrecta e desinformação. 4. Combate à desinformação e à informação incorrecta por meio da alfabetização mediática e informacional. 5. Verificação dos factos. 6. Verificação das redes sociais: avaliação de fontes e conteúdo visual. 7. Combate ao abuso online: quando os jornalistas e as suas fontes se tornam alvos.

Desinformação, informação incorrecta e mau jornalismo

Jornalismo, fake news & desinformação começa por esclarecer as terminologias adoptadas. “Desinformação” é usada para referir as “tentativas deliberadas (frequentemente orquestradas) para confundir ou manipular pessoas por meio de transmissão de informações desonestas”. “Informação incorrecta” reporta-se a “informações enganosas criadas ou disseminadas sem intenção manipuladora ou maliciosa”. Tanto a desinformação como a informação incorrecta são consideradas problemas para a sociedade, ainda que a desinformação seja mais perigosa por ser mais sofisticada e mais disseminada pela tecnologia automatizada.
Guy Berger, director de Liberdade de Expressão e Desenvolvimento de Media da UNESCO, explica no prefácio do manual que “os provedores da desinformação atacam a vulnerabilidade ou o potencial partidário dos destinatários esperando que eles se alistem como amplificadores e multiplicadores”.
A circunstância de as fake news circularem através de canais gratuitos faz com que os que não acedem a meios de comunicação independentes sejam especialmente vulneráveis à desinformação e a informação incorreta. Mas nem todo o jornalismo merece consideração. O jornalismo de baixa qualidade, fruto da falta de profissionalismo, torna possível que a desinformação e a informação incorreta sejam canalizadas para o sistema de notícias institucional.
Para a UNESCO, torna-se “evidente a necessidade de um jornalismo robusto e ético como uma possibilidade e um antídoto para a contaminação do ambiente da informação e o efeito indireto de degradação ampla de notícias”.
Os jornalistas precisam de prestar atenção à circunstância de, como assinala Guy Berger, não serem apenas espectadores da avalanche crescente de desinformação e informação incorreta. Eles encontram-se no percurso da avalanche. O que, segundo acrescenta Guy Berger, faz com que o jornalismo enfrente “o risco de ser abafado pela cacofonia”. Além disso, os jornalistas correm “o risco de serem manipulados por actores que vão além da ética das relações públicas”, uma vez que tentam enganar ou corromper jornalistas para disseminar a desinformação. Os jornalistas, na qualidade de comunicadores que trabalham a serviço da verdade, incluindo “verdades inconvenientes”, podem ainda tornar-se “alvo de mentiras, boatos e rumores destinados a intimidá-los e difamá-los e ao seu jornalismo”, especialmente quando o seu trabalho ameaça expor aqueles que são os canais ou as fontes da desinformação.
Os jornalistas são instados por Guy Berger a reconhecer que, embora as redes sociais sejam a principal área de desinformação, os “protagonistas poderosos” estão a instrumentalizar as “notícias falsas” para reprimir os media de divulgarem notícias autênticas. A pretensão de sujeitar os media genuínos a um “ministério da verdade” com o poder de suprimir informações por razões puramente políticas é um dos perigos no horizonte.

Sete regras para o jornalismo

O manual Jornalismo, fake news & desinformação defende que o papel distintivo do jornalismo se encontra na capacidade de contribuir para esclarecer e construir confiança em torno de conteúdos verificados e propõe sete princípios que importa ter em boa conta:
“Exatidão: os jornalistas nem sempre podem garantir a ‘verdade’, mas a exatidão e a checagem dos fatos continuam sendo um princípio fundamental do jornalismo;
Independência: os jornalistas devem ter vozes independentes. Isso significa não agir, formal ou informalmente, em nome de interesses específicos e declarar qualquer fato que possa constituir um conflito de interesse, no interesse da transparência;
Justiça: relatórios honestos de informações, eventos, fontes e suas histórias envolvem filtrar, pesar e avaliar informações de forma aberta e perspicaz. Fornecer contexto e apresentar uma variedade de perspectivas concorrentes gera confiança na reportagem;
Confidencialidade: um dos princípios fundamentais do jornalismo investigativo é a proteção de fontes confidenciais (com raríssimas exceções). Isto é essencial para manter a confiança das fontes de informação (incluindo os denunciantes) e, em alguns casos, garantir a segurança dessas fontes;
Humanidade: o que os jornalistas publicam ou transmitem pode ser necessariamente prejudicial (por exemplo, a humilhação experimentada por um político corrupto, uma vez exposto por um bom jornalismo investigativo), mas o impacto do jornalismo na vida de terceiros deve ser considerado. Aqui, o interesse público é o princípio orientador. A humanidade também significa a consideração de problemas enfrentados por grupos desfavorecidos, mesmo que não seja necessário ir tão longe, por exemplo, a ponto de adotar, persistentemente, um estilo de jornalismo socialmente justo;
Responsabilização: é certamente um sinal de profissionalismo e jornalismo ético corrigir erros com rapidez, destaque e sinceridade; ouvindo as preocupações do público e respondendo às mesmas. Tais práticas podem se manifestar em notas de orientação de organizações jornalísticas e órgãos de autorregulação que têm em conta o jornalismo com base em códigos de conduta de profissionais voluntários;
Transparência: na prática – sustenta a responsabilidade e auxilia no desenvolvimento e manutenção da confiança no jornalismo.”

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *