A acompanhar inúmeras notícias sobre a morte de um jovem rapper português, que o país agora ficou a conhecer menos pelo verdadeiro nome, David Mota, do que pelo que adoptou, Mota Jr, há diversas fotografias em que subsiste algo de inquietante.
A identidade que através delas o jovem pretendia afirmar mereceria um estudo psicológico aprofundado, susceptível de englobar uma avaliação do perfil dos rapazes e raparigas a quem era requerido um olhar de admiração ou a veneração de um modelo.
Mesmo sem qualquer investigação demorada, é possível constatar que as imagens são demasiado evidentes na demonstração do contrário do que são instadas a afirmar.
Quando o que se pretende ostentar é auto-suficiência, o que nos é dado a observar expõe sobretudo desamparo.
Quando querem infundir terror, é detectável o medo. Quando desejam mostrar poder, o que patenteiam é frustração. O que deveria suscitar inveja, provoca sobretudo pena.
Note-se, por fim, que o culto de um imaginário e de uma retórica anti-social não é exclusivo de alguns rappers. Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, tal e qual um vulgar rufia, gosta, também ele, de se exibir como um indivíduo com o dedo no gatilho.
A edição brasileira do diário El País referia ontem, citando o historiador Federico Finchelstein, especialista em fascismo e populismo, que a retórica armamentista de Bolsonaro é inspirada nos regimes totalitários do fascista Benito Mussolini na Itália e do nazi Adolf Hitler na Alemanha. Para ambos, a violência era um fim em si mesmo.