As páginas da imprensa têm registado, desde há tempos, o advento de um novo género de protagonistas: as mulheres e as namoradas dos jogadores de futebol. Em raros casos, compreende-se a atenção, uma vez que ela já existia antes dos enlaces. A jornalista Sara Carbonero é muito mais do que a mulher de Iker Casillas e a cantora Shakira é tão ou mais famosa do que o marido, Gerard Piqué. Ser “a mulher de” ou “a namorada de” é, todavia, mais frequentemente, a única coisa que justifica a excessiva presença nos jornais.
A impressão com que se fica é que as mulheres, assim como os automóveis, são adereços que melhoram o estatuto dos futebolistas, fidelizando-os perante o comum dos adeptos e, claro, dos leitores. Se os carros têm de se caracterizar pelas altas cilindradas, as mulheres devem ser portadoras de um sex-appeal de um certo tipo, não sem abundantes apreciadores. É por isso que as fotografias das mulheres e das namoradas dos jogadores as mostram, inclusive nas primeiras páginas, “escaldantes”, em poses pretensamente insinuantes ou de fato de banho. Às vezes, é verdade, a exibição parece que não corre bem, o que para os jornais é uma mais-valia.
Seja como for, os que deploram a existência de mulheres “objecto” têm ignorado a objectificação destas novas actrizes sociais, se assim podem ser designadas.
Imagens: Correio da Manhã e Jornal de Notícias de hoje e de segunda-feira.